PRESIDENTE QUENIANO NOMEIA FIGURAS DA OPOSIÇÃO NO SEU NOVO GOVERNO, DEPOIS DE FORTES CONTESTAÇÕES
O Presidente queniano William Ruto nomeou nesta quarta-feira quatro figuras da oposição no seio do seu "governo alargado" composto para tentar estancar a contestação que tem abalado país desde meados do mês passado e que resultou numa severa repressão, com um balanço de pelo menos 50 mortos.
Estas quatro personalidades, todos membros do partido de Raila Odinga, o mais directo adversário político do Presidente, (o Movimento Democrático Laranja, ODM), são John Mbadi que ficou com o pelouro das Finanças, James Opiyo Wandayi, novo ministro da Energia e Petróleo; Hassan Ali Joho, titular do Ministério das Minas e da Economia do Mar, assim como Wycliffe Oparanya, que foi nomeado Ministro para o Desenvolvimento das Cooperativas e das PME.
Estas figuras estão inseridas numa lista de dez personalidades nomeadas hoje e que vieram somar-se a mais dez outros novos membros do novo governo de William Ruto, já submetidos à aprovação do Parlamento.
A nomeação destes quatro apoiantes de Raila Odinga coloca a oposição numa postura delicada, uma vez que ainda na sexta-feira, um dos seus líderes, Musyoka Kalonzo, disse que não participaria nem apoiaria o "governo alargado" preconizado pelo Presidente da República.
Estas nomeações em catadupa acontecem depois de William Ruto ter anunciado no passado dia 11 de Julho a demissão de praticamente todo o seu governo, com excepção do seu ministro dos Negócios Estrangeiros Musalia Mudavadi.
Metade dos 20 ministros que acabam de ser nomeados estavam no governo anterior e só falta agora um cargo, o de ministro da Justiça, inicialmente atribuído a Rebecca Miano, que foi entretanto colocada na liderança do Ministério do Turismo e a Fauna.
Esta remodelação governamental veio em resposta ao forte movimento de contestação desencadeado pelo projecto de orçamento 2024-25 que introduzia novos impostos, que ele finalmente retirou sob pressão da rua.
A mobilização lançada pela juventude a 18 de Junho fora de qualquer quadro político assumiu contornos dramáticos, quando no passado dia 25 de Junho a polícia disparou com balas reais contra a multidão. O balanço da repressão das manifestações eleva-se a pelo menos 50 mortos e mais de 400 feridos, de acordo com a Agência Nacional de Protecção dos Direitos Humanos (KNCHR).
Por outro lado, jornalistas também denunciam "ameaças" e "intimidações" por parte da polícia durante a repressão das manifestações. Ainda hoje, dezenas de jornalistas participaram em marchas em vários pontos do país para reclamar a protecção da polícia e que "ela pare de atirar "contra eles.
Apesar do anúncio da retirada do orçamento e da formação de um novo governo, a situação continua delicada no Quénia.
Centenas de manifestantes continuam a reunir-se todas as semanas no país para exigir a demissão do Presidente que tinha sido eleito em 2022 com a promessa de lutar contra a pobreza no seu país.
Na sequência da retirada do seu projecto de reforma fiscal que previa 29 biliões de euros de despesas financiadas pelos contribuintes, o Presidente queniano anunciou um aumento nos empréstimos, cerca de 1,2 bilhão de euros, assim como uma redução das despesas públicas, na ordem de 1,3 bilhão de euros.
A dívida pública do Quénia, motor económico da África Oriental, ascende a cerca de 71 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 70% do seu PIB. (RFI).
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